segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O reMoedor de pimenta


    
    Certa vez tive um repentino desejo em comprar um Moedor de pimenta,  procurei em várias lojas o dito objeto, porém fui encontrá-lo perto de minha casa, mas ao indagar o meu desejo em comprar tal ferramenta, a vendedora que como um tapa em minha face, com as costas de sua mão, me mostrou um pela bagatela de R$286,50. O dito cujo em madeira comum, tinha aproximadamente 10 cm de mais nada.  Juro que tentei usar o que eu tenho de conhecimento em marcas e marketing para justificar aquele valor monetário, porém nada endossava o preço do objeto ordinário; design comum, material simples, nenhuma função peculiar aparente. Imagino que ele se transforme em alguma coisa, mas em nada ele se transformava.

    Concordo com você que me diz que provavelmente a marca posiciona-se como uma trading up marca de luxo, mas mesmo assim não tem como você tirar de minha cabeça que uma pessoa em nossa capital compre um negócio desses sem ser sócio do M Dias branco ou empresas do mesmo porte. Quero que fique claro que não falo pelo montante em si, e sim pela funcionalidade básica que esse produto, que um dia provavelmente poderá salvar a sua vida, tem.
     Até entendo que muita gente em Fortaleza realmente tem muito dinheiro, nesse caso até vale, pode até para comprar fósforos em madeira de carvalho ou papel higiênico em seda chinesa caso desejem. Mas em sua grande maioria as pessoas que compram tal bem ou algo semelhante pertencem à classe media alta. Pessoas que fazem questão em compartilhar o preço desembolsado pelo objeto de “primeira necessidade” parecem os cartoneiros de supermercados onde sua labuta é a de fixar os preços de lista nos produtos, só falam disso.

     Não que isso seja da minha conta o que cada um compra ou o que faz, pois cada um compra o que lhe der na telha, mas eis a questão, esse texto não se trata do objeto, na verdade estou remoendo sobre um vazio dentro do individuo que transmuta o valor das coisas, todos nós em algum momento da vida acabamos fazendo isso, a proposta é tentadora e reconfortante, só acho que fazer disso um estilo de vida pode ser pernicioso. Assim, o individuo remoedor vai tornando-se escravo do que aparentemente parece ser um bem comprado em uma loja, mas que na verdade é um símbolo que traduz a falta de algo a mais; um bem intangível como um afeto, um filho, marido, uma paixão, uma ideologia quem sabe? Vide um analista.


    Na  verdade algumas pessoas posam como indivíduos cheios de coisas, mas na realidade são vazias de outras; do que adianta ter um moedor de pimenta caro se não se tem a pimenta. O bom é ter os dois, mas sem a pimenta vai moer o que?

8 comentários:

  1. Marco, a pimenta do seu texto foi analisar a falta de tempero no espírito de muitos. Ou pior, terem o sabor de ostras que não possui gosto própios, mas sim do sal e da pimenta colocada nela. Parabéns!

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  2. Afinal de contas... Compraste esse santo graal? Quero saber se já posso te chamar de rico, digo, de "classe média alta" (isso existe?!). rsrs

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    1. No momento só tenho a pimenta... Mas meu aniversário é dia 27. Fica a dica :)

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  3. Marco adorei o texto. O que eu posso comentar é que seu texto de inicio trata da filosofia do “Viva o luxo e morra o bucho”. Lamentavelmente,as pessoas vivem alienada a marcas que disfarça os olhos, ilude o coração e aliena a mente, fazendo com que o necessitado substitua aquilo lhe é verdadeiramente essencial, por coisas, bens e objetos efêmeros, descartáveis e improdutivos, cuja única consequencia prática é gastarem com aquilo que não pode. Mas trazendo isso ao nosso ser as pessoas são vazias, não há humildade apenas pose!

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  4. Texto muito pertinente! Nos leva a introspectarmos e indagarmos o que realmente devemos dar valor, quebrando paradigmas sociais da inversão de valores entre o ser e o ter. Show!!!

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